terça-feira, 10 de maio de 2011

Poemas (Paulo Leminski)

isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além

esta vida é uma viagem
pena eu estar
só de passagem


Acordei bemol
Estava tudo sustenido
Sol fazia
só não fazia sentido

quando eu vi você tive uma idéia brilhante
foi como se eu olhasse de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse mil faces num só instante
basta um instante e você tem amor bastante

"a noite
me pinga uma estrela no olho
e passa"


Amor, então também acaba?
Não, que eu saiba.
O que eu sei
é que se transforma
numa matéria-prima
Que a vida se encarrega
de transformar em raiva.
Ou em rima

"moinho de versos
movido a vento
em noites de boemia

vai vir o dia
quando tudo que eu diga
seja poesia.

"Minha mãe dizia:
-ferve água
-frita ovo
-pinga pia
e tudo obedecia."



Vazio agudo
Ando meio
Cheio de tudo



- que tudo se foda,
disse ela,
e se fodeu toda.

não discuto
com o destino

o que pintar
eu assino

isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além

Abrindo um antigo caderno
foi que eu descobri
antigamente eu era eterno

eu ontem tive a impressão
que deus quis falar comigo
não lhe dei ouvidos

quem sou eu para falar com deus?
ele que cuide dos seus assuntos
eu cuido dos meus



pelos caminhos que ando
um dia vai ser
só não sei quando






o amor, esse sufoco,
agora há pouco era muito,
agora, apenas um sopro

ah, troço de louco,
corações trocando rosas,
e socos.



GARDÊNIAS E HORTÊNSIAS
NÃO FAÇAM NADA QUE ME LEMBRE
QUE A ESTE MUNDO EU PERTENÇA
DEIXEM-ME PENSAR
QUE TUDO ISSO NÃO PASSA
DE UMA TERRÍVEL COINCIDÊNCIA


Nesta vida, pode-se aprender
três coisas de uma criança:
estar sempre alegre,
nunca ficar inativo e
chorar com força por tudo o que se quer


"nunca sei ao certo
se sou um menino de duvidas
ou um homem de fé

certezas o vento leva
só as duvidas continuam em pé"


"Onde é que nós estamos
que já não reconhecemos os desconhecidos?"


sossegue coração
ainda não é agora
a confusão prossegue
sonhos afora

calma calma
logo mais a gente goza
perto do osso
a carne é mais gostosa


cada manhã que nasce
me nasce
uma rosa na face




quatro dias sem te ver
e não mudaste nada
falta açúcar na limonada
me perdi da minha namorada
nadei nadei e não dei em nada
sempre o mesmo poeta de bosta
perdendo tempo com a humanidade


duas folhas na sandália...
o outono também quer andar..



"Haja hoje para tanto ontem."

aqui...
nessa pedra
alguem sentou
olhando o mar
o mar não parou
para ser olhado...
foi mar pra tudo quanto é lado.


en la lucha de clases
todas las armas son buenas
piedras
noches
poemas



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