sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

"Aprender a viver" Clarice Lispector


    Thoreau era um filósofo americano que, entre coisas mais difíceis de se assimilar assim de repente, numa leitura de jornal, escreveu muitas coisas que talvez possam nos ajudar a viver de um modo mais inteligente, mais eficaz, mais bonito, menos angustiado.
    Throreau, por exemplo, desolava-se vendo seus vizinhos só pouparem e economizarem para um futuro longínquo. Que se pensasse um pouco no futuro, estava certo. Mas "melhore o momento presente", exclamava. E acrescentava: "Estamos vivos agora." E comentava com desgosto: "Eles ficam juntando tesouros que as traças e a ferrugem irão roer e os ladrões roubar."
    A mensagem é clara: não sacrifique o dia de hoje pelo de amanhã. Se você se sente infeliz agora, tome alguma providência agora, pois só na sequência dos agoras é que você existe.
Cada um de nós, aliás, fazendo um exame de consciência, lembra-se pelo menos de vários agoras que foram perdidos e que não voltarão mais. Há momentos na vida que o arrependimento de não ter tido ou não ter sido ou não ter resolvido ou não ter aceito, há momentos na vida em que o arrependimento é profundo como uma dor profunda.
    Ele queria que fizéssemos agora o que queremos fazer. A vida inteira Thoreau pregou e praticou a necessidade de fazer agora o que é mais importante para cada um de nós.
Por exemplo: para os jovens que queriam tornar-se escritores mas que contemporizavam - ou esperando uma inspiração ou se dizendo que não tinham tempo por causa de estudos ou trabalhos - ele mandava ir agora para o quarto e começar a escrever.
Impacientava-se também com os que gastam tanto tempo estudando a vida que nunca chegam a viver. "É só quando esquecemos todos os nossos conhecimentos que começamos a saber."
    E dizia esta coisa forte que nos enche de coragem: "Por que não deixamos penetrar a torrente, abrimos os portões e pomos em movimento toda a nossa engrenagem?" Só em pensar em seguir o seu conselho, sinto uma corrente de vitalidade percorrer-me o sangue. Agora, meus amigos, está sendo neste próprio instante. Thoreau achava que o medo era a causa da ruína dos nossos momentos presentes. E também as assustadoras opiniões que nós temos de nós mesmos. Dizia ele: "A opinião pública é uma tirana débil, se comparada à opinião que temos de nós mesmos." É verdade: mesmo as pessoas cheias de segurança aparente julgam-se tão mal que no fundo estão alarmadas. E isso, na opinião de Thoreau, é grave, pois"o que um homem pensa a respeito de si mesmo determina, ou melhor, revela seu destino".
    E, por mais inesperado que isso seja, ele dizia: tenha pena de si mesmo. Isso quando se levava uma vida de desespero passivo. Ele então aconselhava um pouco menos de dureza para com eles próprios. O medo faz, segundo ele, ter-se uma covardia desnecessária. Nesse caso devia-se abrandar o julgamento de si próprio. "Creio", escreveu, "que podemos confiar em nós mesmos muito mais do que confiamos. A natureza adapta-se tão bem à nossa fraqueza quanto à nossa força". E repetia mil vez aos que complicavam inutilmente as coisas - e quem de nós não faz isso? -, como eu ia dizendo, ele quase gritava com quem complicava as coisas: simplifique! simplifique!
     E um dia desses, abrindo um jornal e lendo um artigo de um nome de homem que infelizmente esqueci, deparei com citações de Bernanos que na verdade vêm complementar Thoreau, mesmo que aquele jamais tenha lido este.
     Em determinado ponto do artigo (só recortei esse trecho) o autor fala que a marca de Bernanos estava na veemência com que nunca cessou de denunciar a impostura do "mundo livre". Além disso, procurava a salvação pelo risco - sem o qual a vida para ele não valia a pena - "e não pelo encolhimento senil, que não é só dos velhos, é de todos os que defendem as suas posições, inclusive ideológicas, inclusive religiosas" (o grifo é meu).
    Para Bernanos, dizia o artigo, o maior pecado sobre a terra era a avareza, sob todas as formas. "A avareza e o tédio danam o mundo." "Dois ramos, enfim, do egoísmo", acrescenta o autor do artigo. Repito por pura alegria de viver: a salvação é pelo risco, sem o qual a vida não vale a pena! Feliz Ano Novo"

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Reinventar a vida - Frei Betto‏

Finda o ano, inicia-se o novo. No íntimo, o propósito: daqui pra frente, tudo vai ser diferente. Começar de novo. Será? Haveremos de escapar do vaticínio do verso de Fernando Pessoa, “fui o que não sou”? Atribui-se a Gandhi esta lista dos sete pecados sociais: 1) Prazeres sem escrúpulos; 2) Riqueza sem trabalho; 3) Comércio sem moral; 4) Conhecimento sem sabedoria; 5) Ciência sem humanismo; 6) Política sem idealismo; 7) Religião sem amor.

E agora, José? No mundo em que vivemos, quanta esbórnia, corrupção, nepotismo, ciência e tecnologia para fins bélicos, práticas religiosas fundamentalistas, arrogantes e extorsivas! Os ícones atuais, que pautam o comportamento coletivo, quase nada têm do altruísmo dos mestres espirituais, dos revolucionários sociais, do humanismo de cientistas como os dois Albert – o Einstein e o Schweitzer. Hoje, predominam as celebridades do cinema e da TV, as cantoras exóticas, os desportistas biliardários, a sugerir que a felicidade resulta de fama, riqueza e beleza.

Impossibilitada de sair de si, de quebrar seu egocentrismo (por falta de paradigmas), uma parcela da juventude se afunda nas drogas, na busca virtual de um esplendor que a realidade não lhe oferece. São crianças e jovens deseducados para a solidariedade, a compaixão, o respeito aos mais pobres. Uma geração desprovida de utopia e sonhos libertários. A australiana Bronnie Ware trabalhou com doentes terminais. A partir do que viu e ouviu, elencou os cinco principais arrependimentos de pessoas moribundas:

1) Gostaria de ter tido a coragem de viver uma vida verdadeira para mim, e não a que os outros esperavam de mim. No entardecer da vida, podemos olhar para trás e verificar quantos sonhos não se transformaram em realidade! Porque não tivemos coragem de romper amarras, quebrar algemas, nos impor disciplina, abraçar o que nos faz feliz, e não o que melhora a nossa foto aos olhos alheios. Trocamos a felicidade da pessoa pelo prestígio da função. E muitos se dão conta de que, na vida, tomaram a estrada errada quando ela finda. Já não há mais tempo para abraçar alternativas.

2) Gostaria de não ter trabalhado tanto. Eis o arrependimento de não ter dedicado mais tempo à família, aos filhos, aos amigos. Tempo para lazer, meditar, praticar esportes. A vida, tão breve, foi consumida no afã de ganhar dinheiro, e não de imprimir a ela melhor qualidade. E nesse mundo de equipamentos que nos deixam conectados dia e noite somos permanentemente sugados; fazemos reuniões pelo celular até quando dirigimos carro; lidamos com o computador como se ele fosse um ímã eletrônico do qual é impossível se afastar.

3) Gostaria de ter tido a oportunidade de expressar meus sentimentos. Quantas vezes falamos mal da vida alheia e calamos elogios! Adiamos para amanhã, depois de amanhã. O momento de manifestar o nosso carinho àquela pessoa, reunir os amigos para celebrar a amizade, pedir perdão a quem ofendemos e reparar injustiças. Adoecemos macerados por ressentimentos, amarguras, desejo de vingança. E para ficar bem com os outros, deixamos de expressar o que realmente sentimos e pensamos. Aos poucos, o cupim do desencanto nos corrói por dentro.

4) Gostaria de ter tido mais contato com meus amigos. Amizades são raras. No entanto, nem sempre sabemos cultivá-las. Preferimos a companhia de quem nos dá prestígio ou facilita o nosso alpinismo social. Desdenhamos os verdadeiros amigos, muitos de condição inferior à nossa. Em fase terminal, quando mais se precisa de afeto, a quem chamar? Quem nos visita no hospital, além dos que se ligam a nós por laços de sangue e, muitas vezes, o fazem por obrigação, não por afeição? Na cultura neoliberal, moribundos são descartáveis e a morte é fracasso. E não se busca a companhia de fracassado.

5) Gostaria de ter tido a coragem de me dar o direito de ser feliz. Ser feliz é uma questão de escolha. Mas, vamos adiando nossas escolhas, como se fossemos viver 300 ou 500 anos. Ou esperamos que alguém ou uma determinada ocupação ou promoção nos faça feliz. Como se a nossa felicidade estivesse sempre no futuro, e não aqui e agora, ao nosso alcance, desde que ousemos virar a página de nossa existência e abraçarmos algo muito simples: fazer o que gostamos e gostar do que fazemos.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

O óbvio ululante (TOSTÃO)


Natal me lembra vida, pessoas queridas, renascimento, nascimento, que me lembra uma das mais belas passagens que já li, escrita pelo genial João Guimarães Rosa, no livro "Grande Sertão Veredas". Transcrevo o texto:
"Da mulher -que me chamaram: ela não estava conseguindo botar seu filho no mundo. E era noite de luar, esta mulher assistindo no próprio rancho. Nem rancho, só um papiri à-toa. Eu fui. Abri, destapei a porta -que era simples e encostada, pois que tinha porta; só não alembro se era um couro de boi ou um tranço de buriti. Entrei no olho da casa, lua me esperou lá fora. Mulher tão precisada: pobre que não teria o com que para uma caixa-de-fósforo. E ali era um povoado só de papudos e pernósticos. A mulher me viu, da esteira em que estava se jazendo, no pouco chão, olhos dela alumiaram de pavores. Eu tirei da algibeira uma cédula de dinheiro, e falei: - 'Toma, filha de Cristo, senhora dona: compra um agasalho para esse que vai nascer defendido e são, e que deve se chamar Riobaldo...' Digo ao senhor: e foi menino nascendo. Com as lágrimas nos olhos, aquela mulher rebeijou minha mão... Alto eu disse, no me despedir: - Minha Senhora Dona: um menino nasceu - o mundo tornou a começar!...' - e sai para as luas".
Dizem que, na vida real, o jovem médico João Guimarães Rosa foi atender a uma mulher pobre, em trabalho de parto, em um casebre. Chegou e viu a criança nascendo, já com a cabeça para fora, assistida por uma parteira. João Guimarães Rosa, imobilizado, chorou copiosamente. Será que foi aí que o mundo perdeu um médico e ganhou um de seus mais brilhantes escritores?
João Guimarães Rosa me faz lembrar outro grande escritor, Nelson Rodrigues.
Contam -Ruy Castro poderá dizer se é verdade- que, ao caminhar pelo aterro do Flamengo, Nelson Rodrigues percebeu que o amigo, que sempre morou no Rio, levou um grande susto. Não acreditava no que via. Acabara de descobrir o bondinho do Pão de Açúcar.
Aí teria nascido a expressão "óbvio ululante", criada por Nelson Rodrigues.
Outro grande susto foi o que tiveram muitas pessoas ao ver o belíssimo futebol e a enorme superioridade do Barcelona sobre o Santos.
Não acreditavam no que viam. O Barcelona, para eles, parecia um time de ETs, recém-chegado à Terra. Mano Menezes disse que há algo diferente no futebol.
Descobriram o óbvio ululante.
A coluna voltará a ser publicada no dia 18 de janeiro, quarta-feira. Até lá.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Expectativas extravagantes (JOÃO PEREIRA COUTINHO)


O casal não conhece limites em seus desejos contraditórios. Reclama de paixão e de razão

Casamentos combinados? Nada contra. Mas existem combinações e combinações. Conhecer a noiva ainda no berço não é a ideia perfeita de romantismo. Casar com ela durante a infância também não.
Mas confesso inveja pelos indígenas de Tikopia, uma pequena ilha do Pacífico, onde as combinações matrimoniais impostas pela tribo admitem um período de conhecimento e, digamos, "experimentação". Se as coisas não resultarem, nenhum drama: é hora de tentar uma nova combinação.
É nessas alturas que uma pessoa pensa nas desvantagens de viver no Ocidente pós-moderno, onde estamos por nossa conta e risco na busca da princesa encantada. E tanto esforço, e tanta despesa, e tanta angústia para quê?
Vivesse eu em Tikopia e poderia estar tranquilamente em casa, lendo e escrevendo, enquanto a tribo procurava fêmea compatível para mim. Quando a encontrasse, era só bater na minha porta e eu receberia a noiva do mês para o respectivo período de conhecimento e "experimentação". Haverá coisa mais civilizada?
Paul Hollander não se pronuncia. Mas o seu "Extravagant Expectations", onde conheci os tikopianos, é um dos meus livros de 2011. Hollander, como estudioso dos regimes totalitários do século 20, dispensa apresentações.
Só que, dessa vez, o sociólogo americano resolveu fazer uma pausa nas suas trincheiras para investigar como amam os americanos. O que procuram eles na cara metade. E por qual motivo se desiludem tão rapidamente com o parceiro.
Essas perguntas exigiram "trabalho de campo": Hollander mergulhou nos classificados pessoais de relacionamento; consultou sites de encontros na internet; e leu a bibliografia popular e a acadêmica sobre o assunto.
Conclusão: a crise das relações modernas está, como o título indica, nas "expectativas extravagantes" que os americanos -e, desconfio, os ocidentais em geral- transportam para o matrimônio.
Na conjugalidade, o casal não conhece limites em seus desejos contraditórios. Reclama doses homéricas de paixão e de razão; de aventura permanente mas também de segurança permanente; de estabilidade emocional e de excitação emocional; de beleza física e de intelecto apurado.
Haverá relação que aguente o peso dessas expectativas?
Dificilmente. Mas o interesse do livro de Paul Hollander está sobretudo na explicação genética das "expectativas extravagantes". Que, obviamente, seriam incompreensíveis para nossos antepassados.
E seriam incompreensíveis porque a dimensão "romântica" do casamento é recente na história do Ocidente: tradicionalmente, as relações entre homens e mulheres eram tuteladas por "agentes intermediários", a começar pela família, que proviam e promoviam essas relações. Os "sentimentos" das partes envolvidas não eram os argumentos mais preponderantes.
O romantismo próprio da modernidade acabaria por enterrar esse mundo, atribuindo ao indivíduo (e ao "sentimento") a construção do seu destino "autêntico".
E, claro, acabou também por determinar o recuo da família, da tradição e mesmo da religião. Não apenas como "agentes intermediários"; mas também como fontes válidas de conhecimento ou consolação.
O problema, escreve Hollander, é que esse recuo não significou o fim das carências -espirituais, éticas, intelectuais- que continuam a pulsar na natureza humana. E que são agora transplantadas pelo indivíduo socialmente isolado para dentro da sua privacidade.
Hoje, os ocidentais desejam que as relações íntimas possam suprir todas as exigências que anteriormente estavam repartidas por várias esferas da sociedade.
Azar: o casamento não comporta essas exigências múltiplas e contraditórias. A pessoa com quem casamos não consegue reunir as qualidades perfeitas de amante, amigo, confessor, professor, guia turístico, estátua grega e terapeuta. No Ocidente pós-moderno, a taxa de divórcio não para de subir. Brasil incluso. Um cínico diria que o fenômeno tem explicação simples: as pessoas divorciam-se porque podem.
Mas é possível oferecer uma explicação alternativa: as pessoas divorciam-se porque casam. E não há casamento que resista quando se exige dele tudo e o seu contrário.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Papai Noel por toda parte (Contardo Caligaris)


Nossa 'generosidade' é narcisista; deve ser por isso que preferimos fantasiá-la de Papai Noel
Embora meu pai fosse agnóstico, ele tolerou que, durante a infância, eu tivesse uma educação religiosa -católica, no caso.
Se meu pai tivesse impedido que eu fosse batizado, suponho que minha avó materna teria me administrado o sacramento às escondidas. Era ela quem me levava para a missa do domingo; foi ela quem se encarregou de minha primeira comunhão e de minha crisma.
Talvez meu pai aceitasse a ingerência da minha avó para preservar a paz do lar. Ou talvez ele pensasse que um pouco de religião na infância não me faria mal (há uma ideia laica de que um pouco de fé, no começo da vida, pode nos dispor ao respeito pelo próximo e a saudáveis escrúpulos morais).
Seja como for, meu pai era cético, minha mãe, incerta, e minha avó, crente -assim como muitos eram crentes entre os professores, os parentes e os amigos dos meus pais. Havia, portanto, muitos adultos para quem, apesar do ceticismo do meu pai, Deus era uma verdade -não apenas um artifício pedagógico.
Essa divergência não existe em matéria de Papai Noel: a partir da pré-adolescência, ninguém acredita mais que ele exista de verdade. Ao contrário, uma criança de dez anos que escreva uma carta para o polo Norte desperta preocupação: "Atraso cognitivo ou emocional?", perguntam, preocupados, os mesmos adultos que, poucos anos antes, declaravam a essa criança que Papai Noel existe (e se felicitavam ao verificar que ela acreditava).
O Papai Noel não é o único caso de crença reservada à infância. Porém, por mais que os adultos contem histórias de bruxas ou ogros e achem graça na credulidade apavorada das crianças, é só no caso do Papai Noel que produzimos anualmente um grandioso culto público.
Imagine que um meteorito se choque com a terra hoje, 22 de dezembro, acabando com a espécie humana. No futuro, uma expedição arqueológica de um planeta distante chegará à Terra com o intento de entender quem eram os humanos. Eles concluirão que uma grande parte dos terrestres venerava um velhinho acima do peso, que vivia na neve, se locomovia em trenó e presenteava as crianças.
No melhor dos casos, haverá, entre os ETs, uma espécie de Paul Veyne (o autor de "Acreditaram os Gregos em seus Mitos?", Edições 70): estranhando a contradição entre nossa cultura e o infantilismo de nossas crenças, ele escreverá "Será que os terrestres acreditavam mesmo em Papai Noel?".
Enfim, o fato é que, nesta estação, enchemos nossas cidades de imagens do Papai Noel e encorajamos as crianças a conversar com os papais noéis que povoam lojas e shopping centers.
Milagre natalino: sábado à noite, em São Paulo, a avenida Paulista (fechada aos carros) era um desfile alegre de famílias. Às crianças pequenas, boquiabertas, só sobrava acreditar no Papai Noel: se ele não existisse, por que os adultos se dariam àquele trabalho?
Alguns dizem que tudo isso não passa de uma invenção do comércio -para que todos esperem receber presentes e, na falta de um Papai Noel real, sejamos obrigados a tomar seu lugar, indo às compras. Eu tendo a pensar que o comércio pegou carona numa invenção que não foi dele, mas nossa, dos adultos em geral.
Talvez precisemos do Papai Noel para encarnar e disseminar o espírito natalino. Seríamos crédulos na infância e faríamos de conta uma vez por ano, para preservar um ideal de solidariedade e bonomia.
E há outra explicação, menos poética, mas não excludente. Amamos nossas crianças de uma maneira que não é exatamente prova de nossa grandeza de ânimo.
Sobretudo nas últimas décadas, enfiamo-lhes presentes ou guloseimas goela abaixo, que elas os mereçam ou não, para vê-las satisfeitas e gratificadas (mesmo que seja só por um instante).
Com que propósito? Esperamos que a fartura de nossos rebentos compense todas as nossas frustrações, passadas e presentes.
Como nos envergonhamos dessa "generosidade" narcisista, o jeito é fantasiá-la de Papai Noel: não somos nós que mimamos e estragamos nossas crianças, é um velhinho vestido de vermelho.
É um problema? Não sei, mas um adulto que acredita no Papai Noel é alguém convencido de que o almoço é de graça e não é preciso se esforçar: o mundo, os deuses ou a sorte lhe darão o que ele quer, que ele mereça ou não. É isso que queremos que nossas crianças acreditem?
Feliz Natal, e que o Papai Noel não se esqueça de ninguém.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Gustavo Cerbasi - O detalhe que falta

Em 2012, não deixe para depois os cuidados com a saúde, com a família e com as suas relações pessoais 


HÁ PESSOAS que se consideram injustiçadas pela vida, porque não tiveram as mesmas oportunidades ou a mesma sorte de outras. De maneira oposta, há também quem negue definitivamente o fator sorte como motivo para se distanciar de problemas na vida. Os preparativos para as celebrações natalinas mostram bem essas diferenças.

Nesta semana, muitas pessoas perderão dezenas de horas e muita saúde na correria das compras de final de ano e na obrigação de concluir suas tarefas de trabalho. Seja no trânsito, seja no caixa do estacionamento do shopping center ou simplesmente à espera do atendimento de um vendedor, muitos testarão sua paciência em filas.

Será uma semana de ansiedade. A pauta de reflexão será algo do tipo: "Terei de estender o horário de trabalho, mas ainda não comprei o presente do meu amigo secreto... Bom, ainda bem que as lojas fecharão mais tarde hoje". Sem tempo para escolher. Sem muitas opções, já que os produtos estarão se esgotando nas prateleiras. O preço está alto? "Não importa, é a opção que resta..." Presentes sairão caro. 
Nesta mesma semana, outras pessoas estarão curtindo um merecido descanso em alguma praia ou em qualquer outro lugar longe do agito das compras.

Em alguns lares, famílias estarão se esmerando nos detalhes da decoração para a ceia de Natal, entregando presentes para crianças carentes, rasgando papéis velhos e começando a tradicional faxina para começar um 2012 com menos restos inúteis do passado.

Os mais caprichosos estarão cortando as fitas para fazer os laços dos presentes, cujas cores foram escolhidas de acordo com as preferências dos presenteados. Os presentes já estão arrumadinhos debaixo da árvore.

Nos escritórios, também haverá gente retocando os planos para o próximo ano, ensaiando discursos criativos para a festa do amigo secreto ou até ensaiando uma poesia para declarar seu amor na tão esperada festa de fim de ano.

Enquanto um grupo sabe de antemão que sua vida será um inferno nesses dias, outro estará desfrutando da deliciosa sensação de relembrar os últimos detalhes e apagar gradualmente as luzes de um ano que se vai. Em qual grupo você gostaria de estar? Certamente, do lado dos mais tranquilos.

Existe uma sutil diferença entre os que desfrutam e os que se afobam. É a mesma que existe entre os que fazem seu dinheiro render bem com boas escolhas e os que pagam caro por entregas expressas e outros serviços de conveniência. A diferença está no hábito de planejar. Ou, na falta desse hábito, dependendo de qual lado começa a comparação.

Há quem credite à falta de sorte suas dificuldades na carreira, a falta de dinheiro, o investimento mal escolhido e a falta de vagas no estacionamento do shopping.

E há também quem passa a vida sem desfrutar dessas amargas experiências, porque em algum momento escolheu antecipar seus movimentos e escolher um caminho de menor sofrimento.

Descobri, ao longo dos anos, que quem planeja sua agenda acaba tendo mais tempo para pesquisar alternativas e analisar melhor as informações. Com isso, gasta menos dinheiro e tem mais consumo ou mais poupança. Também cheguei à conclusão de que quem planeja suas finanças conta com mais recursos disponíveis, o que possibilita comprar ferramentas e tecnologias que ajudem a economizar tempo.

Pouco importa, portanto, se sua prioridade é planejar a agenda ou planejar suas finanças. O detalhe que pode fazer grande diferença em sua vida é o planejamento. Então, aproveite que 2011 está se esvaindo e está chegando a hora de fazer promessas, e faça uma promessa definitiva: dedique em 2012 mais tempo para sua organização pessoal, para que você seja mais eficiente no que quer que faça.

Não esqueça de cuidar da agenda, das datas festivas, das liquidações pós-festejos e de suas finanças pessoais, mas também não deixe para depois os cuidados com a saúde, com a família e com as suas relações pessoais. Todos esses elementos ganham em qualidade quando há um mínimo de planejamento. 
GUSTAVO CERBASI é autor de "Casais Inteligentes Enriquecem Juntos" (ed. Gente) e "Como Organizar sua Vida Financeira" (Elsevier Campus).

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Pentimentos (Contardo Calligaris )

Sonhamos com escolhas passadas alternativas, que teriam nos levado a um presente diferente
"Pentimento" é a palavra italiana para arrependimento, mas designa (em muitas línguas) uma pintura, um desenho ou um esboço encoberto pela versão final de um quadro.

Às vezes, com o passar do tempo, a tinta deixa transparecer uma composição em cima da qual o artista pintou uma nova versão.
Outras vezes, os raios-x dos restauradores desvendam opções anteriores, que permaneceram debaixo da obra final. Esses esboços ou pinturas, que o artista rejeitou e encobriu, são os pentimentos, que foram descartados sem ser propriamente apagados.
Visível ou não, o pentimento faz parte do quadro, assim como fazem parte da nossa vida muitas tentações e muitos projetos dos quais desistimos. São restos do passado que, escondidos e não apagados, transparecem no presente, como potencialidades que não foram realizadas, mas que, mesmo assim, integram a nossa história.
Pensei nisso assistindo a "Um Dia", de Lone Scherfig, que estreou na sexta passada. O filme é a adaptação do romance homônimo de David Nicholls (Intrínseca), que foi uma das leituras que mais me tocaram neste ano e que já comentei brevemente na coluna de 21 de julho.
O livro e o filme (cujo roteiro é do próprio Nicholls) contam a história de Emma e Dexter, que são unidos pelo pentimento: cada um deles é o grande pentimento do outro -ou seja, ao longo dos anos, cada um é, para o outro, a lembrança de que um outro destino teria sido possível.
Reflexões, saindo do cinema:
1) Nossas vidas são abarrotadas de caminhos que deixamos de pegar; são todos pentimentos, mais ou menos encobertos: histórias que não se realizaram. Por que não se realizaram? Em geral, pensamos que nos faltou a coragem: não soubemos renunciar às coisas das quais era necessário abdicar para que outras escolhas tivessem uma chance. E é verdade que, quase sempre, desistimos de desejos, paixões e sonhos porque custamos a aceitar que nada se realiza sem perdas: por não querermos perder nada, acabamos perdendo tudo.
Emma e Dexter, por exemplo, ficam cada um como pentimento do outro porque nenhum dos dois consegue renunciar à sua insegurança (que é, aliás, o que os torna tão tocantes e parecidos com a gente): ela morrendo de medo de ser rejeitada, e ele, sedento de aprovação, fama e sucesso.
2) O problema dos pentimentos é que eles esvaziam a vida que temos. O passado que não se realizou funciona como a miragem da felicidade que teria sido possível se tivéssemos feito a escolha "certa". Diante disso, de que adianta qualquer experiência presente? Emma e Dexter, por exemplo, são condenados a fracassos amorosos pela própria importância de seu pentimento.
3) Nem sempre os pentimentos são bons conselheiros -até porque, às vezes, eles são falsos (esse, obviamente, não é o caso de Emma e Dexter). Hoje, é fácil esbarrar em espectros do passado: as redes sociais proporcionam reencontros improváveis e, com isso, criam pentimentos artificiais. Graças às redes, uma história que foi realmente apagada da memória (não apenas encoberta) pode renascer como se representasse uma grande potencialidade à qual teríamos renunciado.
No reencontro, um namorico da adolescência, insignificante e esquecido, transforma-se em (falso) pentimento, ou seja, numa aventura que poderia ter aberto para nós as portas do paraíso (onde ainda estaríamos agora, se tivéssemos ousado trilhar esse caminho).
Quando examino as fotos de minhas turmas do colégio, sempre fico com a impressão de que deixei amizades e amores inacabados ou nem começados, mas que teriam revolucionado meu futuro. É como se me perguntasse "Quem era minha Emma? Para quem eu era o Dexter?", fantasiando pentimentos de relações que nunca existiram.
Somos perigosamente nostálgicos de escolhas passadas alternativas, que teriam nos levado a um presente diferente. Se essas escolhas não existiram, somos capazes de inventá-las -e de vivê-las como pentimentos.
Avisos: os pentimentos não são necessariamente recíprocos, e os falsos pentimentos, revisitados, são pequenas receitas para o desastre.
4) Estreia amanhã "As Canções", de Eduardo Coutinho. Homens e mulheres cantam a música que foi crucial na sua vida (e explicam por que ela foi crucial). Em alguns casos, especialmente tocantes, as músicas são trilhas sonoras de pentimentos.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Amor, paixão e amizade (Mirian Goldenberg)


O maior problema do casamento é a morte do desejo sexual, já que este se alimenta da falta, da incerteza

Meus pesquisados apontam três ingredientes presentes no casamento: amor, paixão e amizade. O amor aparece como um sentimento amplo e difícil de ser definido. É diferente da paixão, inicial e provisória, que se transforma em amor ou acaba.
Segundo os entrevistados, é impossível manter um estado permanente de paixão, por dois motivos: ela não resiste ao cotidiano e sua irracionalidade é insuportável.
Quando não acaba como fogo de palha, a paixão se transforma em algo mais tranquilo: o amor. Já esse, para durar, deve conter resíduos da paixão inicial ou corre o risco de se transformar em outro sentimento: a amizade.
O casamento deve combinar os três sentimentos: uma grande dose de amor com pitadas de paixão e amizade.
É preciso ter cuidado para não desequilibrar essas porções, já que uma grande dose de amizade poderia destruir o desejo sexual.
O amor se encontra entre a paixão e a amizade. É menos explosivo do que a primeira, mas menos morno do que a segunda. É mais tranquilo do que a paixão, mas menos seguro do que a amizade.
Se a paixão é insuportável por sua imprevisibilidade e sua loucura, o perigo da amizade está na racionalidade e na rotina. Um equilíbrio complicado é necessário para que uma e outra estejam presentes no casamento, mas que não sejam mais fortes do que o sentimento de amor.
A paixão é associada ao excesso de sexo. A amizade é relacionada à falta dele.
O sexo deve ser frequente e agradável, mas mais controlado do que na paixão. O casal deve estar atento para não deixá-lo cair na rotina e na burocracia, fantasma que ameaça os relacionamentos.
A ideia de que é possível administrar esses três sentimentos apareceu entre os pesquisados.
A paixão, mais irracional, deve ser domada, mas não pode ser excluída do casamento. Uma dose controlada de insegurança e de incerteza sobre a posse do outro é considerada necessária para alimentar o desejo sexual.
Essa matemática complicada torna os casais reféns de lógicas contraditórias. Os pesquisados apontam como perigos para o casamento a rotina, a burocratização, a mesmice. Mas falam também da necessidade de fidelidade, segurança, tranquilidade.
O maior problema do casamento, dizem eles, é a morte do desejo sexual, já que este se alimenta da falta, da insegurança, da incerteza.
Como conciliar, então, amor e desejo sexual no casamento? Eis a questão.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Silêncio



"Silêncio: que graça universal. Como poucos de nós sabem aproveitá-lo... Talvez porque ele não possa ser comprado." (Charles Chaplin)

domingo, 4 de dezembro de 2011

'Ser fiel é tão arriscado quanto trair', diz psicanalista

Autor de livros de sucesso, o psicanalista britânico Adam Phillips atrai leitores fugindo do jargão e tratando de temas como o flerte ou a gentileza, que não costumam receber atenção acadêmica. Suas obras, que combinam psicanálise, filosofia e literatura, são populares, mas ele mesmo, não. Nem e-mail tem. "Restringi ao máximo minhas formas de comunicação."
Phillips trabalha agora em "Missing Out", um livro sobre coisas que deixamos de lado na vida, a ser lançado no segundo semestre de 2012.
Nesta entrevista feita em seu consultório, em Londres, o autor de "Monogamia" fala sobre riscos da crença no "felizes para sempre".
*
Folha - Em "Monogamia", o senhor diz que não há nada mais escandaloso do que um casamento feliz. Por quê?
Adam Phillips - O que amamos e odiamos num casamento feliz é ver nossos primeiros desejos e medos acontecendo na vida real. Toda criança começa seu desenvolvimento em uma relação monogâmica, com a mãe. E a maioria passa os primeiros 11, 15 anos da vida muito conectada a mãe e ao pai. É uma espécie de monogamia bissexual. Crescer é passar da necessidade de ter só uma pessoa para a necessidade de ter duas (mãe e pai) e a necessidade e a capacidade de se relacionar com várias.
Daí nossa tendência para a relação monogâmica?
A relação monogâmica é uma memória muito poderosa, é onde começamos. Hoje, muita gente acha difícil manter uma relação monogâmica. Queremos coisas opostas, desejamos coisas proibidas e não sabemos que queremos essas coisas. A cultura torna os desejos muito problemáticos. Muitas pessoas desejam um relacionamento monogâmico, apesar de não serem capazes de lidar com ele.
Quais são as maiores dificuldades da monogamia?
Os problemas surgem quando as pessoas desejam esse tipo de relacionamento, mas não conseguem realizá-lo. E para quem pensa que é isso o que deseja, mas descobre que não era o que queria.
A solução, no caso dessas pessoas, é a infidelidade?
Sim. E pode dar certo, mas sempre com conflito. Todo mundo tem ciúme sexual, ninguém suporta dividir seu parceiro de sexo. Alguns dizem que suportam, mas é impossível. Se amamos e desejamos alguém, não queremos dividi-lo com outros.
Isso tem a ver com a memória da relação entre mãe e bebê?
Sim. E também com o fato de termos necessidades e só determinadas pessoas poderem satisfazê-las.
Concorda com a tese de que mulheres são por natureza propensas à monogamia?
Acredito na teoria da evolução de Darwin, mas penso que evolução envolve cultura. Há boas explicações em termos de sobrevivência da espécie para sustentar que a mulher quer um homem para a vida toda e o homem deseja mais parceiras, mas não acho que a questão da sobrevivência seja a explicação final. Se fosse, a família nuclear seria a única coisa óbvia a se fazer.
Há diferentes formas de garantir a reprodução da espécie, há muitos jeitos de criarmos as crianças. E muitas formas de fazer sexo, não explicadas por essas teorias.
O senhor diz que uma sociedade sem a possibilidade de infidelidade seria perigosa...
Seria uma mentira. Colocaria pressão demais nos casais, obrigando um a ser tudo para o outro. É uma demanda moral irrealista. Outro perigo é a monogamia acabar com o desejo e virar uma prisão.
Acha a sociedade hipócrita em relação à monogamia?
Sim, se ela afirmar que é a única forma boa de relação para todos e o tempo todo.
Mas hoje também há muita gente dizendo que toda relação monogâmica é hipócrita, o que não é verdade. Para alguns, é um desejo genuíno, uma experiência real.
Tão real quanto traição?
As duas formas são construções sociais. O capitalismo trivializou a paixão, fez com que as pessoas se desiludissem em relação ao amor. Isso leva a pensar que as relações sexuais são algo que se compra no mercado só para levar a vida adiante. O capitalismo tenta dissuadir a criação de vínculos reais. E valoriza demais o prazer. E, para a psicanálise, o prazer é sempre um problema. Qualquer pessoa que te venda um prazer fácil está mentindo. Se o que queremos é prazer profundo, com troca entre pessoas, ele será difícil, cheio de conflitos.
Como lidar com os conflitos?
As crianças deveriam ter aulas na escola sobre frustração, para entender como ela é valiosa. Para adultos, a psicanálise ajuda, é educativa. Os adultos precisam aprender a ser adultos. A maioria age como adolescente, não quer crescer, acredita em fórmulas mágicas de relacionamento.
A fórmula 'feliz para sempre'?
Claro, é um ideal enganoso. Assim como achar que a pessoa que não se prende a ninguém é livre. São dois ideais igualmente enganadores.
A monogamia não é também uma forma de evitar riscos?
Pode ser. Correr riscos é muito importante, mas não devemos pressupor que todos os riscos estão na infidelidade. Fidelidade é tão arriscada quanto traição, há muitos riscos na monogamia.
Quais são eles?
Numa relação monogâmica, cada parceiro sabe e não sabe muitas coisas íntimas sobre o outro. Outro risco é descobrir as limitações do relacionamento humano, o quanto a outra pessoa pode de fato fazer por você. E há o risco de formar uma família.
Por que não considerar esses riscos tão atraentes quanto os riscos da traição?
Não fomos capazes de produzir relatos excitantes sobre a monogamia. Os bons romances são sobre adultério. Por isso, é difícil articular de forma interessante os prazeres da monogamia. Fica parecendo algo tedioso. Além disso, fomos educados para acreditar que a vitalidade está na heresia. Mas pode haver vitalidade nos dois tipos de relacionamento. O ocidental moderno e culto assume que a vitalidade esta só na heresia. Também está, mas essa não é toda a verdade.
Do que precisamos, afinal?
De boas histórias que nos ajudem a viver. As únicas verdades úteis são as que nos ajudam a viver. Num relacionamento, o que você precisa é criar uma história na qual se sinta vivo com a outra pessoa.
Hoje, temos mais opções para criar essa história?
Não sei. A cultura liberal oferece mais escolhas do que havia antes. Mas o capitalismo cria a ilusão de que temos muitas escolhas, quando na verdade temos muito poucas.
A única escolha é ser feliz ou não. É isso que está sendo vendido como o único programa: quanto prazer você pode ter, quão feliz pode ser. Só que felicidade pode ser como uma droga, nunca satisfaz, você quer sempre mais. Há coisas muito mais importantes que a felicidade: justiça, generosidade, gentileza.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

A pele que habito (e a dos outros) CONTARDO CALLIGARIS


Há homens que sonham em ser transformados ("contra sua vontade") em mulheres promíscuas e submissas

Nesta altura, considero conhecida a trama do último Almodóvar, "A Pele que Habito": um cirurgião, o doutor Ledgard, sequestra um jovem (Vicente) durante anos e o transforma numa mulher (Vera).
Na saída do cinema, alguém comenta: "Se acontecesse comigo, eu ficaria namorando o médico. Fazer o quê? Pênis, eu já não teria mais. E não estaria a fim de fugir. Voltar para minha vida de antes e contar que me tornei mulher para minha mãe e para meus amigos, já pensou?".
Infelizmente, na situação da vítima de Ledgard, ninguém conseguiria fazer prova de tamanho pragmatismo, por uma razão simples: a sensação íntima e profunda de ser homem ou mulher (a identidade de gênero) não é coisa que possa ser mudada.
É possível, isso sim (e acontece no caso dos transexuais), "retificar" o corpo, caso ele não coincida com a identidade de gênero de alguém.
Se você sempre se sentiu homem num corpo de mulher ou mulher num corpo de homem, se você tem a trágica impressão de estar no corpo errado, pois bem, nesse caso, à força de hormônios, operações cirúrgicas e orientações terapêuticas, você talvez possa modificar seu corpo de maneira que ele concorde com seu sentimento de identidade.
Mas não há tratamentos que, ao transformar seu corpo, possam levar você a mudar seu sentimento profundo de ser homem ou mulher.
Conclusão, se um homem fosse transformado em mulher à força, ele não se resignaria (pragmaticamente), mas passaria a vida querendo que seu corpo fosse retificado para ele voltar a ser o homem que ele nunca deixou de ser.
Em 24 de fevereiro de 2000, nesta coluna ("A terapia da faca e do superbonder"), contei a história de David Reimer, cujo pênis foi decepado acidentalmente na circuncisão, em 1966. Por sugestão do psicólogo John Money, Reimer foi castrado e criado como menina, com a ideia de que é melhor ser uma menina fabricada (na faca, com hormônios, roupas e brincadeiras adequadas) do que um menino com uma prótese peniana.
John Money escondeu o desespero de Reimer durante infância e adolescência. Reimer, ao descobrir o engodo do qual tinha sido vítima, parou a palhaçada e voltou a ser homem. Atualizando: em 2004, Reimer se suicidou.
Por qual loucura Money imaginou que, ao transformar o corpo de um menino, ele poderia mudar sua identidade e fazer dele uma mulher?
A resposta está na onipotência das ciências humanas nos anos 60, mas também numa fantasia erótica masculina, que talvez Money compartilhasse e que paira tanto sobre "A Pele que Habito" quanto sobre o livro (imperdível) que inspira o filme: "Tarântula", de Thierry Jonquet (Record).
Há sites (sixpacksite.comtgcomics.comfictionmania.tv) inteiramente dedicados a ficções e quadrinhos que elaboram fantasias de feminização forçada. A clientela desses sites é de homens heterossexuais, que sonham em ser transformados ("contra sua vontade") em mulheres promíscuas e submissas. Dica: os machos que se gabam por levar as mulheres à loucura podem estar com vontade de sentir neles mesmos o efeito de seus próprios (supostos) talentos.
Mais perto do cotidiano, "A Pele que Habito" é também apenas mais uma parábola do amor, pois é banal que o amor nos leve a querer transformar parceiros e parceiras de forma que eles correspondam a nossas expectativas.
O projeto de moldar o outro transforma qualquer convívio numa violência. Mas essa violência não impede nada: no clássico "Post-traumatic Therapy and Victims of Violence" (terapia pós-traumática e vítimas da violência, Routledge, 1988), Frank Ochberg enumerava, entre os sintomas habituais das vítimas, tanto um ódio ressentido e doentio quanto sentimentos positivos -incluindo amor romântico, sujeição e, paradoxalmente, gratidão.
"A Pele que Habito" poderia ser, em suma, a versão trágica e realista de "My Fair Lady". No musical, Eliza Doolittle acaba amando mais que odiando o prof. Higgins, que a transformou numa "lady". No filme de Almodóvar, talvez Vera odeie Ledgard mais do que o ama. Mas o que importa é que os sentimentos da vítima são sempre ambivalentes.
É essa a chave para entender as mil histórias de vítimas que poderiam ou deveriam ter fugido, como a de Natascha Kampusch, abusada por "3096 Dias" (Verus ed.), ou como a da menina que foi escrava sexual de Gaddafi durante cinco anos (

AUTOAJUDA (Martha Medeiros)

Estava lendo o divertido Tudo é Tão Simples, de Danuza Leão, quando uma senhora chegou perto, com ar de desprezo, e disse: “Não te imaginava lendo autoajuda”. Pensei em responder que Kafka e Tchekhov também são autoajuda: dos eruditos aos passatempos, todo livro escrito com honestidade ajuda. Se bobear, até mesmo embustes tipo “Como arranjar marido” ou “Como juntar o primeiro milhão antes dos 30 anos” ajudam – quer ilusão, toma ilusão.

O psicanalista Contardo Calligaris certa vez disse numa entrevista que escreve para estimular o leitor a melhorar a qualidade de sua experiência de vida, intensificando-a. E Calligaris realmente consegue esse feito, por isso o leio. Assim como leio e sublinho inúmeras citações do filósofo romeno Cioran, que me ajuda a identificar a miséria humana sob uma ótica extremamente lúcida.

Muito antes de eu descobrir Calligaris e Cioran, tive que descobrir a mim mesma, e Marina Colasanti foi, nesse sentido, minha guia espiritual. Com suas crônicas, abriu minha cabeça para a sociedade que estava se firmando no início dos anos 80, quando as mulheres assumiram um novo papel. Eu não seria a mesma se não tivesse lido seus livros (muitas garotas talvez citem hoje a autora de Comer, Rezar, Amar como divisora de águas em suas vidas – eu também adorei).

Ainda adolescente, Fausto Wolff me deu consciência política, Millôr Fernandes me ensinou a enxergar o reverso do espelho, Verissimo me incentivou a rir de mim mesma, Paulo Leminsky me fez ver que poesia não precisava ser um troço chato e Caio Fernando Abreu me apresentou um mundo sem preconceitos. Seria uma ingrata se dissesse que eles não fizeram nada além de me entreter.

Além desses autores geniais, passei também por livros maçantes que me serviram como ansiolíticos – me ajudaram a pegar no sono. Hermetismo nem sempre é sinônimo de inteligência, profundidade não é privilégio dos deprimidos e mesmo histórias bem escritas podem naufragar se forem pretensiosas.

Michael Cunnigham ajuda a manter minha humildade (nem que eu vivesse 200 anos conseguiria escrever algo minimamente parecido com Ao Anoitecer, que acaba de ser lançado), Cristovam Tezza ajuda a controlar minha inveja (que técnica!) e Dostoievski me ensina que a fúria é mais produtiva quando transformada em arte.

Qualquer tipo de arte, aliás. Música de Autoajuda? Existe. Cazuza, por exemplo, já estimulou minha indignação com o país, Ney Matogrosso me faz sentir sensual, Jorge Ben sempre me alegra e Chico Buarque diversas vezes me comoveu, e ficar comovido é de primeira necessidade.

Existe autoajuda para todos os gostos. Tendo ou não esse propósito, nenhum livro deve ser diminuído por ter sido útil.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

'Felicidade sim' (Antonio Prata)


Vivi por 34 anos sob o jugo do chuveiro elétrico. Ah, lastimável invento! Já gastei mais de uma crônica amaldiçoando seus fabricantes; homens maus, que ganham a vida propagando a falácia da temperatura com pressão, quando bem sabemos que, na gélida realidade dos azulejos, ou a água sai abundante e fria, ou é um fiozinho minguado e escaldante, sob o qual nos encolhemos, cocuruto no Saara e os pés na Patagônia, sonhando com o dia em que, libertos das inúteis correntes (de elétrons), alcançaremos a terra prometida do aquecimento central.
Reclamo de barriga cheia? Sem dúvida. Há problemas bem mais sérios neste mundo, mas sejamos honestos: a morte do vizinho não anula a minha dor de dente -e um banho ruim é dez vezes mais triste que uma dor de dente. Afinal, um molar, quando para de doer, não é capaz por si só de nos dar alegria. Já o banho, quando é bom... Que contentamento uterino é ter a pele envolvida por água abundante, sentir o jorro de 50ºC, no auge do inverno; orgasmo da epiderme!
Dizem os psicanalistas que, quando pequenos, temos prazer em cada centímetro do corpo. Com o passar do tempo, contudo, também a pele vai sendo adestrada, e a libido acaba restrita às "red light zones" de nossas íntimas moradas. Eis a nossa sina, buscar em vão o Éden perdido: na mulher amada, nas religiões, nas drogas, ou -por que não?- numa ducha quente.
Durante a infância, ouvia minha mãe reclamar do banho e lamentar, frustrada, que não valia a pena fazer reforma numa casa alugada. Aos 20, fui morar sozinho e vi-me repetindo o mesmo discurso; vicissitudes do inquilinato. No mês passado, contudo, depois de ter casado, juntado os trapos e os FGTS, conseguimos um financiamento e atingi, ao mesmo tempo, o sonho da casa própria e do aquecimento central.
Com um boiler pra chamar de meu, pensei, meus problemas haviam acabado. Toda melancolia escorreria pelo ralo. Cheguei a imaginar que a metafísica não fosse, como disse o asno de Sancho Pança, uma decorrência do estômago vazio, mas do incômodo térmico: não seriam os pés frios a razão de querermos anular o corpo e inventar outras realidades -mais morninhas? Houvesse aquecimento central na idade da pedra, teríamos necessitado dos deuses? Tivesse Descartes um bom chuveiro, talvez não desconfiasse tanto dos sentidos, a ponto de afirmar que só pelo pensamento podia afirmar sua existência.
Pois bem, mudei-me: por 29 dias e 29 noites, fui feliz como um bebê no líquido amniótico. Se, no meio da tarde ou da noite, o tédio ou a tristeza me visitavam, lembrava do último banho, imaginava o próximo e sorria, satisfeito. Até que, na trigésima manhã, esta manhã de terça, da qual jamais me esquecerei, peguei-me sob a ducha quente pensando numa conta atrasada e resmungando sobre a fila do banco. O banho virara apenas mais um acontecimento banal, feito escovar os dentes ou cortar as unhas, e entendi, alheio à pressão e à temperatura, que nenhuma felicidade sobrevive à repetição. Trinta e quatro anos desejando; 29 dias para perder a graça. Estranha é a matemática da vida.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Humm, me engana que eu gosto (Francisco Daudt)


Uma de nossas ilusões é o tamanho do livre arbítrio, ele inaugurou-se na mordida da maçã, à força

"Eu prefiro sonhar a ser triste", disse o portuga da novela para Griselda, seu amor impossível. É, eu vejo novela de vez em quando, já que é a principal fonte de reflexão sobre assuntos nunca pensados pela maioria dos brasileiros.
Raramente vi uma síntese tão bonita do "me engana que eu gosto" quanto esta.
Nossa espécie não gosta muito da verdade, apesar de ser capaz de concebê-la e assimilá-la, às vezes.
É só pensar quantos creem na continuação da vida após a morte, mesmo sabendo que nenhum Windows roda depois que o disco rígido queima, que não há software sem hardware para fazê-lo funcionar, que não há alma que sobreviva a um cérebro morto.
Você já tomou anestesia geral? Uma situação em que o cérebro fica inoperante? Então já experimentou o sentimento do "nada". Não há sensações, nem memórias, não há nada. Você já experimentou a morte.
Quem somos nós? Um programa "Eu" que roda entre as conexões de nossos neurônios e nos dá a ilusão de existirmos. Entre outras ilusões: a de controle (tal coisa não existe, nem para atravessar uma rua: espere o sinal, olhe para os dois lados e você estará aumentando suas chances de chegar vivo ao outro lado); de sermos quem manda em nossas vontades, sem levar em consideração a natureza (pense nas vezes que você transou sem camisinha).
Uma de nossas ilusões é o tamanho do livre arbítrio (ou, escolha nossa, livre de condicionamentos culturais ou genéticos). Meus professores jesuítas diziam que Adão exerceu o livre arbítrio ao comer o fruto da arvore do conhecimento e por isto foi expulso do paraíso. "Mas, padre, se o Criador lhe deu curiosidade, foi seu modelo ideal, pôs a seu alcance o instrumento de torná-lo semelhante a seu Pai, ainda com o poder de divergir da opinião Dele, o que restava a Adão, senão querer aquele fruto?" A ilusão do livre arbítrio inaugurou-se na mordida da maçã, à força.
Esta lenda é um marco histórico da eterna conversa entre a consciência e a autoilusão, que é o que nos permite ir, às vezes mais para um lado (Copérnico, a dizer que não era a Terra o centro do Universo), às vezes para o outro (as várias maneiras de negar a morte, iniciadas há mais de 100 mil anos, com os rituais fúnebres, o que estabelece o começo de nossa espécie: sabemos que vamos morrer, mas "continuaremos vivos").
Você tem visto as propagandas eleitorais na TV. Preciso dizer mais em relação ao "me engana que eu gosto"? Está bem, nos últimos anos mergulhamos num clima de cinismo sem comparação, ministros corruptos são demitidos com lágrimas e elogios, mas mesmo assim...
A saúde mental combina uma confortável associação de busca da verdade e desprezo por verdades muito incômodas. Portanto, a crença na vida eterna não é nenhuma doença, e vivermos sem pensar na morte, pois estamos vivos, é um equilíbrio. Mas a obsessão pela morte a ponto de se explodir em nome de uma causa, para chegar ao paraíso, certamente é uma doença.
Um ditado dá num bom acordo: "A morte é um momento, e não me roubará da vida nada mais do que ela é, seu momento".

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Tamanho é documento - Mônica Salmaso

" Há possibilidades de escolhas verdadeiras e boas colheitas quando a gente se pergunta, lá no fundo, qual é o tamanho ideal do que realmente a gente considera ser uma vida boa"


Não me sinto à vontade para escrever uma coluna; mas, por conta do meu interesse pelo tema, no qual penso muito (muitas vezes), vendo em mim e nos outros os parâmetros variados e os resultados, achei que poderia escrever sobre ele, mesmo de maneira não tão incrível quanto eu gostaria de ser capaz.

Uma vez, eu estava num conhecido ateliê de móveis de São Paulo. Por sorte, o proprietário estava presente: Carlos Motta, uma pessoa muito conversadora, simpática e, sobretudo, apaixonada pelo que faz. Eu estava no oitavo mês de gravidez e ostentava um enorme barrigão que, na mesma proporção em que
me trazia todas as belezas mágicas de ter um bebê “morando” ali, destruía a minha lombar! Fomos conversando, e eu escolhi uma cadeira que me parecia ideal para descansar. Durante a conversa, soube que exatamente aquela cadeira tinha sido anatomicamente desenhada para trazer conforto à mulher de Carlos, quando estava amamentando. Ele havia recebido um convite grande para fornecer um enorme número de cadeiras para uma importante rede europeia.

O convite era tudo o que, normalmente, se pensa sobre ideal de crescimento. Muitas vendas, mercado europeu em maior escala, considerável entrada de dinheiro na conta. O problema era que, para conseguir dar conta daquele pedido, seria necessário aumentar a infraestrutura do ateliê, contratar mais gente, sair da produção menor que permitia ao dono fazer o que gosta e passar mais horas com a família, viajar, ler um livro, manter a vida que ele havia construído e que tinha chegado ao seu “tamanho ideal”. A pergunta era: aumentar exatamente para quê, se assim está bom?! Ele não aceitou.

Muitas pessoas diriam que “crescer numericamente” é o ideal de todos, posto que sempre podemos COMPRAR mais, ser DONOS de mais coisas! Mas será este o único ideal de vida, de ambição e de felicidade para todo mundo, mesmo? Ou é parte do pacote de infelicidade eterno do que não somos ou não temos, em comparação com os ideais de beleza, sucesso e riqueza vendidos nas revistas, na televisão, no cinema comercial etc.

Noutra vez, eu tinha que pagar uma conta e só podia fazer isso numa agência do Banco do Brasil ou numa casa lotérica. Fui a uma perto de casa e vi o anúncio do prêmio estimado em R$ 150 milhões. Fiz uma aposta. Voltei para casa pensando em que minha vida mudaria se os meus números fossem sorteados… Não mudaríamos de casa (gostamos da nossa) e/ou de carro. A casa na roça já é muito mais do que precisamos para nos equilibrar e nos divertir. Viajaríamos mais? Um pouco mais, porque já viajamos bastante fazendo o que fazemos. Achei, finalmente, a ÚNICA coisa que mudaria na minha vida hoje, sem dúvida, definitiva e radicalmente: NUNCA MAIS faria viagens internacionais em classe econômica!

Obviamente, não ganhei o prêmio, mas tive a chance de verificar, naquela hora, que a vida que tenho hoje me faz feliz, e que há possibilidades de escolhas verdadeiras e “boas colheitas” quando a gente se pergunta, lá no fundo, qual é o “tamanho ideal” do que realmente a gente considera ser uma vida boa.

Simples, até meio bobo, mas tão pouco praticado…

*Mônica Salmaso é cantora e lança o CD “Alma lírica brasileira”no Teatro Rival,dias 9 e 10 de dezembro

sábado, 26 de novembro de 2011

Acaso - SÉRGIO TELLES

Tememos o acaso. Ele irrompe de forma inesperada e imprevisível em nossas vidas, expondo nossa impotência contra forças desconhecidas que anulam tudo aquilo que trabalhosamente penamos para organizar e construir. Seu caráter aleatório e gratuito rompe com as leis de causa e efeito com as quais procuramos lidar com a realidade, deixando-nos desarmados e atônitos frente a emergência de algo que está além de nossa compreensão, que evidencia uma desordem contra o qual não temos recursos. O acaso deixa à mostra a assustadora falta de sentido que jaz no fundo das coisas e que tentamos camuflar, revestindo-a com nossas certezas e objetivos, com nossa apreensão lógica do mundo.

Procuramos estratégias para lidar com essa dimensão da realidade que nos inquieta e desestabiliza. Alguns, sem negar sua existência, planejam suas vidas, torcendo para que ela não interfira de forma excessiva em seus projetos. Outros, mais infantis e supersticiosos, tentam esconjurá-la usando fórmulas mágicas. Os mais religiosos simplesmente não acreditam no acaso, pois creem que tudo o que acontece em suas vidas decorre diretamente da vontade de um deus. Aquilo que alguns considerariam como a manifestação do acaso, para eles são provações que esse deus lhes envia para testar-lhes a fé e obediência.

São defesas necessárias para continuarmos a viver. Se a ideia de que estamos à mercê de acontecimentos incontroláveis que podem transformar nossas vidas de modo radical e irreversível estivesse permanentemente presente em nossas mentes, o terror nos paralisaria e nada mais faríamos a não ser pensar na iminência das desgraças possíveis. E nem é necessário imaginar grandes catástrofes, embora elas possam sempre ocorrer. Basta lembrar que nossa própria morte, ou a de um ente querido, pode ocorrer a qualquer instante, sem que nada possamos fazer para impedi-lo.

Entretanto, tem um tipo de homem que age de forma diversa. Ao invés de tentar fugir do acaso, como faz a maioria de nós, ele o convoca constantemente. É o viciado em jogos de azar.

O jogador invoca e provoca o acaso, desafiando-o em suas apostas, numa tentativa de dominá-lo, de curvá-lo, de vencê-lo. E também de aprisioná-lo. É como se, paradoxalmente, o jogador temesse tanto a presença do acaso nos demais recantos da vida, que pretendesse prendê-lo, restringi-lo, confiná-lo à cena do jogo, acreditando que dessa forma o controla e anula seu poder.

É o grande equívoco do jogador, como bem adverte Mallarmé no início de seu famoso poema "um lance de dados não abolirá jamais o acaso". É certo que os lugares onde se praticam os jogos de azar, como os cassinos, são espaços privilegiados onde o acaso é convocado e se faz presente, exibindo todo seu fascínio. Mas é uma ilusão pensar que ele ali ficaria retido, abstendo-se de atuar em outros domínios da vida, como gostaria o jogador.

O jogador leva às ultimas consequências essa forma de lidar com o acaso. Mas, em grau menor, todos nós fazemos algo parecido, todos temos um secreto "jogo de dados". Criamos situações específicas, nas quais concentramos nossa angústia, nossas fobias. Pessoas que têm medo de avião ou de elevador, por exemplo, pretendem circunscrever essas ocasiões à incidência do acaso (o acidente, a morte) e passam a evitá-las, acreditando com isso controlar sua ameaçadora e fortuita emergência.

A psicanálise mostra que o embate do jogador com o acaso, com o destino, é um eco da batalha edipiana, na qual o filho desafia o pai todo-poderoso da infância, tentando vencê-lo (matá-lo), ao mesmo tempo em que se oferece à imolação, expondo-se de forma masoquista ao castigo por tal ousadia, mergulhando na aposta que o põe em risco absoluto.

Através da psicanálise ficou evidente que muitas vezes nos julgamos vítimas do acaso sem nos apercebermos que, movidos por complexos sentimentos ocultos, como a culpa, inadvertidamente nós mesmos fabricamos aquelas situações que nos afligem. O acaso e o inconsciente, é claro, são categorias diversas e não confundíveis, mas provocam na mente consciente e racional semelhante efeito de estranheza.

O acaso tem papel relevante no excelente filme Um Conto Chinês, do argentino Sebastián Borensztein. Num recanto da China, um inacreditável acontecimento (supostamente ocorrido na realidade, como é mostrado no fim do filme, com os créditos) destrói os planos do jovem Jun. Em função disso, ele se traslada para Buenos Aires, onde termina por encontrar Roberto, um metódico comerciante de bairro preso a experiências traumáticas e a lutos impossíveis de elaborar. Mas o acaso, na figura do chinês, desmonta suas rígidas defesas obsessivas, trazendo Roberto de volta à vida.

Um Conto Chinês mostra as duas faces do acaso - o azar que se abate sobre Jun e a sorte que salva Roberto, o infeliz veterano da Guerra das Malvinas.

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O canadense Xavier Dolan, nascido em 1989, é uma das maiores revelações do cinema mundial. Aos 16 anos escreveu o roteiro de Eu Matei Minha Mãe, filme que interpretou e dirigiu e que, ao ser apresentado no Festival de Cannes de 2009, foi aplaudido de pé por oito minutos, ganhando o prêmio da Quinzena dos Diretores. Amores Imaginários, seu novo filme em cartaz, é uma lição sobre o narcisismo enquanto exigência voraz de ser amado incondicionalmente sem nada dar em troca, com toda a crueldade e sadismo nisso implicados. Se em Eu Matei Minha Mãe, Dolan estava mais interessado em contar uma história (com muitos traços autobiográficos), em Amores Imaginários a preocupação formal é mais evidente e bem-sucedida.

sábado, 19 de novembro de 2011

A Mulher Madura (Affonso Romano de Sant'Anna )


O rosto da mulher madura entrou na moldura de meus olhos.


De repente, a surpreendo num banco olhando de soslaio, aguardando sua vez no balcão. Outras vezes ela passa por mim na rua entre os camelôs. Vezes outras a entrevejo no espelho de uma joalheria. A mulher madura, com seu rosto denso esculpido como o de uma atriz grega, tem qualquer coisa de Melina Mercouri ou de Anouke Aimé.

Há uma serenidade nos seus gestos, longe dos desperdícios da adolescência, quando se esbanjam pernas, braços e bocas ruidosamente. A adolescente não sabe ainda os limites de seu corpo e vai florescendo estabanada. É como um nadador principiante, faz muito barulho, joga muita água para os lados. Enfim, desborda.

A mulher madura nada no tempo e flui com a serenidade de um peixe. O silêncio em torno de seus gestos tem algo do repouso da garça sobre o lago. Seu olhar sobre os objetos não é de gula ou de concupiscência. Seus olhos não violam as coisas, mas as envolvem ternamente. Sabem a distância entre seu corpo e o mundo.

A mulher madura é assim: tem algo de orquídea que brota exclusiva de um tronco, inteira. Não é um canteiro de margaridas jovens tagarelando nas manhãs.

A adolescente, com o brilho de seus cabelos, com essa irradiação que vem dos dentes e dos olhos, nos extasia. Mas a mulher madura tem um som de adágio em suas formas. E até no gozo ela soa com a profundidade de um violoncelo e a sutileza de um oboé sobre a campina do leito.

A boca da mulher madura tem uma indizível sabedoria. Ela chorou na madrugada e abriu-se em opaco espanto. Ela conheceu a traição e ela mesma saiu sozinha para se deixar invadir pela dimensão de outros corpos. Por isto as suas mãos são líricas no drama e repõem no seu corpo um aprendizado da macia paina de setembro e abril.

O corpo da mulher madura é um corpo que já tem história. Inscrições se fizeram em sua superfície. Seu corpo não é como na adolescência uma pura e agreste possibilidade. Ela conhece seus mecanismos, apalpa suas mensagens, decodifica as ameaças numa intimidade respeitosa.

Sei que falo de uma certa mulher madura localizada numa classe social, e os mais politizados têm que ter condescendência e me entender. A maturidade também vem à mulher pobre, mas vem com tal violência que o verde se perverte e sobre os casebres e corpos tudo se reveste de uma marrom tristeza.

Na verdade, talvez a mulher madura não se saiba assim inteira ante seu olho interior. Talvez a sua aura se inscreva melhor no olho exterior, que a maturidade é também algo que o outro nos confere, complementarmente. Maturidade é essa coisa dupla: um jogo de espelhos revelador.

Cada idade tem seu esplendor. É um equívoco pensá-lo apenas como um relâmpago de juventude, um brilho de raquetes e pernas sobre as praias do tempo. Cada idade tem seu brilho e é preciso que cada um descubra o fulgor do próprio corpo.

A mulher madura está pronta para algo definitivo.

Merece, por exemplo, sentar-se naquela praça de Siena à tarde acompanhando com o complacente olhar o vôo das andorinhas e as crianças a brincar. A mulher madura tem esse ar de que, enfim, está pronta para ir à Grécia. Descolou-se da superfície das coisas. Merece profundidades. Por isto, pode-se dizer que a mulher madura não ostenta jóias. As jóias brotaram de seu tronco, incorporaram-se naturalmente ao seu rosto, como se fossem prendas do tempo.

A mulher madura é um ser luminoso é repousante às quatro horas da tarde, quando as sereias se banham e saem discretamente perfumadas com seus filhos pelos parques do dia. Pena que seu marido não note, perdido que está nos escritórios e mesquinhas ações nos múltiplos mercados dos gestos. Ele não sabe, mas deveria voltar para casa tão maduro quanto Yves Montand e Paul Newman, quando nos seus filmes.

Sobretudo, o primeiro namorado ou o primeiro marido não sabem o que perderam em não esperá-la madurar. Ali está uma mulher madura, mais que nunca pronta para quem a souber amar.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

UMA QUESTÃO DE ORDEM (Danuza Leão)


Eles invadiram nossa praia sem pedir licença, mas estão exagerando. Quando ouvi falar, pela primeira vez, que os homens estavam indo fazer pés e mãos, fiquei chocada. 
Mas, como virei moderna, hoje penso que todos têm a obrigação de cuidar de suas extremidades, sim, mas que sejam atendidos em casa, pois a postura de um homem fazendo as unhas não combina com a masculinidade. E desde que não usem esmalte incolor, como o caixa do banco: fui pagar conta e fiquei em tal estado de choque que quase chamei o segurança.
OK, tudo bem, os costumes mudam, mas não é possível se apaixonar por um homem que faz escova. Eles já usam aro no cabelo e brevemente vão estar de franja e fivelinha. Ah, não, não vejo um homão de verdade fazendo as sobrancelhas e se depilando.
Imaginar que um possa dizer, antes (ou depois) do amor, "Cuidado para não desmanchar meu cabelo" não dá. Metrossexual? Me engana que eu gosto.
Não acredito que esses "novos" homens façam o coração de uma mulher bater mais forte, e deve ser por isso que elas andam mais desencantadas. Onde estão aqueles que nos faziam perder o rumo de casa? Onde é que foram parar? Tão bom ouvir um "Com esse decote você não sai comigo". 
Do jeito que as coisas vão, um dia os papéis vão ser trocados, a mulher vai ter que por limite, dar um murro na mesa e dizer: "Tudo bem você usar meus cremes, mas meu batom, minhas calcinhas e meu sapato, isso não". 
É preciso botar ordem na casa: ou se é mulher, ou homem, ou gay. Era assim, pelo menos.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Ismália

ISMÁLIA (Alphonsus de Guimaraens)


Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...

O QUE É UM LIVRO?




Talvez possa fazer um breve resumo da história dos livros. Até onde lembro, os gregos não faziam grande uso deles. A maioria dos grandes mestres da humanidade não foram escritores, mas oradores. Pensem em Pitágoras, Cristo, Sócrates, Buda e assim por diante.
Lembro que Bernard Shaw disse que Platão foi o dramaturgo que inventou Sócrates, tal como os quatro evangelistas inventaram Jesus.

Num dos diálogos de Platão, ele fala sobre os livros de modo um tanto depreciativo: "O que é um livro? Um livro, como uma pintura, parece um ser vivo; no entanto, se lhe perguntamos algo, não responde. Vemos então que está morto". Para fazer do livro um ser vivo, ele inventou o diálogo platônico, que se antecipa às dúvidas e perguntas do leitor.
----------------------------Jorge Luis Borges in Esse Ofício do Verso

Ilustração: óleo sobre tela do argentino Gabriel Caprav.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

LISTA DE COISAS QUE NÃO SABEMOS OU NÃO LEMBRAMOS...






 
Os Três Reis Magos:
 
. O árabe Baltazar: trazia incenso, significando a divindade do Menino Jesus.
 
. O indiano Belchior: trazia ouro, significando a sua realeza.
 
. O etíope Gaspar: trazia mirra, significando a sua humanidade.

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 As Sete Maravilhas do Mundo Antigo: 
 1 - As Muralhas e os Jardins Suspensos da Babilônia 
 2 - A Estátua de Zeus, de Fídias em Olímpia

3 - O Templo de Artemis (ou Diana) em Éfeso

 4 - O Colosso de Rodes

5 - O Mausoléu de Halicarnasso

 6 - O Farol de Alexandria
 7 - As Pirâmides de Gizé no Egito

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 As Sete Maravilhas do Mundo  Moderno
 
 
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 Maravilhas  derrotadas
 
 
 http://acertodecontas.blog.br/atualidades/paises-reagem-a-eleicao-das-7-novas-maravilhas/

 
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 As 7 Notas Musicais  

 A origem é uma homenagem a São João Batista, com seu hino : 
 Ut queant laxis () ...... Para que possam

 Re  sonare fibris  ....... ressoar as
 
Mi
  ra gestorum ..... maravilhas de teus feitos

Fa  mulli tuorum  ......... com largos cantos

Sol  ve polluit    .......    apaga os erros

La
bii  reatum    ........  dos lábios manchados

 S ancti Ioannis  ....... Ó São João

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 Os Sete Pecados Capitais

(Eles só foram enumerados no século VI, pelo papa São Gregório Magno
(540-604), tomando como referência as cartas de São Paulo) 

 . Gula
. Avareza
.  Soberba
. Luxúria
. Preguiça
. Ira
. Inveja 

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As Sete Virtudes 
 
 
 As Sete Virtudes (para combater os pecados capitais) 
 . Temperança (gula)
.  Generosidade (avareza)
. Humildade (soberba)
. Castidade (luxúria)
. Disciplina (preguiça)
. Paciência (ira)
. Caridade (inveja)  

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 Os Sete dias da Semana e os "Sete Planetas" 
 Os dias, nos demais idiomas - com exceção da língua portuguesa , mantém
os nomes dos sete corpos celestes conhecidos desde os babilônios:

. Domingo - dia do Sol
.  Segunda - dia da Lua.
. Terça - dia de Marte
. Quarta - dia de  Mercúrio
. Quinta - dia de Júpiter
. Sexta - dia de Vênus
.  Sábado - dia de Saturno

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 As Sete Cores do Arco-Íris:  
 Na mitologia grega, Íris era a mensageira da deusa Juno. 
 Descia do céu num facho de luz vestindo um xale de sete cores,
originando a palavra arco-íris.  
 A divindade deu origem também ao termo íris, do olho.

. Vermelho
. Laranja
.  Amarelo
. Verde
. Azul
. Anil
. Violeta 

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 Os Dez Mandamentos:  
 1º - Amar a Deus sobre todas as coisas
2º - Não tomar o Seu Santo Nome em vão
3º - Guardar os sábados
4º - Honrar pai e mãe
5º - Não matar
6º - Não pecar contra a castidade
7º - Não furtar
8º - Não levantar falso testemunho
9º - Não desejar a mulher do próximo
10º - Não cobiçar as coisas alheias 

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 Os Doze Meses do Ano:  
 - Janeiro: homenagem ao Deus Janus, protetor dos lares 
 - Fevereiro: mês do festival de Februália (purificação dos pecados),
em Roma; 
 - Março: em homenagem a Marte, deus guerreiro; 
 - Abril: derivado do latim  Aperire (o que abre). Possível referência à primavera no Hemisfério Norte;  
 - Maio: acredita-se que se origine de maia, deusa do crescimento
das plantas; 
 - Junho: mês que homenageia Juno, protetora das mulheres; 
 - Julho: No primeiro  calendário romano, de 10 meses, era chamado de quintilis (5º mês). Foi rebatizado por Júlio César; 
 - Agosto: Inicialmente nomeado de sextilis (6º mês), mudou em homenagem a César Augusto;
- Setembro: era o sétimo mês.  Vem do latim septem; 

 - Outubro: Na contagem dos romanos, era o oitavo mês; 
 - Novembro: Vem do latim novem (nove); 
 - Dezembro: era o décimo mês.  
 
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Os Doze Apóstolos:   1 - Simão chamado Pedro <http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/SaoPedro.html>
príncipe dos  apóstolos,
2 - Tiago o Maior, irmão de João
3 - João o apóstolo bem-amado
4 - Filipe o místico helenista
5 - Bartolomeu o viajante
6 - Mateus ou 
Levi <
http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/SaoMateu.html>publicano 
7 - Tiago o Menor
8 - Simão o Zelota ou o Cananeu
  9 – Judas Tadeu o primo de Jesus 
10 - Judas Iscariotes o traidor
11 - André 
o primeiro Pescador de Homens, irmão de Pedro 

12 - Tomé o ascético  


Após a traição de Iscariotes
<
http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/SaoMatia.html> 
Matias foi escolhido pelos demais para ocupar seu lugar no colégio apostólico. Mais rigorosamente seria 13º apóstolo.
Outro famoso apóstolo, Paulo de Tarso 
<
http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/SaoPaulo.htm
>,                  o  apóstolo dos gentios, não foi testemunha ocular de Jesus Cristo <http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/JesusNaz.html>mas convertido através de visões do   

Jesus ressuscitado, e tornou-se um dos mais fervorosos apóstolos do cristianismo.  

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 Os Doze Profetas do Antigo Testamento: 
 1 - Isaías
2 - Jeremias
3 - Jonas
4 - Naum
5 - Baruque
6 - Ezequiel
7 - Daniel
8 - Oséias
9 - Joel
10 - Abdias
11 - Habacuque
12 -  Amos 

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 Os Quatro Evangelistas e a Esfinge 
 . Lucas (representado pelo touro)
. Marcos (representado pelo leão)
. João (representado pela águia)
. Mateus (representado pelo anjo) 


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 Os Quatro Elementos e os Signos 
 . Terra (Touro - Virgem - Capricórnio)
. Água (Câncer - Escorpião - Peixes)
. Fogo (Carneiro - Leão - Sagitário)
. Ar (Gêmeos - Balança - Aquário) 

 A relação de influência dos signos nos quatro elementos do
mundo sublunar (na esfera):
vermelho= fogo
,  marrom= terra,  azul= água e verde= ar
 Esses quatro elementos  constituem todas as coisas vivas da Terra.

 Por esse motivo, somos influenciados pelos astros.

Barthélemy l'Anglais.  O Livro das Propriedades  das Coisas, século XV. InBNF, FR 135.

 
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 As Musas da Mitologia Grega  
 (a quem se atribuía a inspiração das ciências e das artes) 
 1 - Urânia ( astronomia )
2 - Tália ( comédia )
3 - Calíope ( eloqüência e epopéia )
4 - Polímnia ( retórica )
5 - Euterpe ( música e poesia lírica )
6 - Clio ( história )
7 - Érato ( poesia de amor )
8 - Terpsícore ( dança )
9 - Melpômene ( tragédia )  


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 Os Sete Sábios da Grécia  Antiga: 
 1 - Sólon
2 - Pítaco
3  - Quílon
4 - Tales de Mileto
5 - Cleóbulo
6 - Bias
7 -  Períandro
 
http://www.paralerepensar.com.br/lazerinformacao.htm

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Você Sabia ? 

 1 - Durante a Guerra de Secessão, quando as tropas voltavam para o quartel após uma batalha sem nenhuma baixa, escreviam numa placa imensa:
"O Killed" ( zero mortos )...  Daí surgiu a expressão " O.K. ", para indicar
que tudo estava bem.  
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 2 - Nos conventos, durante a  leitura das Escrituras Sagradas, ao se referir
a São José, diziam sempre " Pater Putativus ", ( ou seja: "Pai Suposto" ) abreviando em P.P. ... Assim  surgiu o hábito, nos países de colonização espanhola, de chamar os "José" de "Pepe".
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 3 - Cada rei no baralho representa um grande Rei/Imperador da história:
. Espadas: Rei David ( Israel )
. Paus: Alexandre Magno ( Grécia/Macedônia )
. Copas: Carlos Magno ( França )
. Ouros: Júlio César ( Roma )  

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 4 - No Novo Testamento, no  livro de São Mateus, está escrito "é mais
fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar
no Reino dos Céus "... O problema  é que São Jerônimo, o tradutor do texto, interpretou a palavra " kamelos "  como camelo, quando na verdade, em grego, "kamelos" são as cordas grossas com que se amarram os barcos.
A idéia da frase permanece a  mesma, mas qual parece mais coerente? 

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 5 - Quando os conquistadores ingleses chegaram a Austrália, se assustaram
ao ver uns estranhos animais que davam saltos incríveis.
Imediatamente chamaram um nativo (os aborígenes australianos eram extremamente pacíficos) e perguntaram qual o nome do bicho. O índio
sempre repetia " Kan Ghu Ru ", e portanto o adaptaram ao inglês,
"kangaroo" ( canguru ).
Depois, os lingüistas determinaram o significado, que era muito claro: os indígenas queriam dizer: "Não te entendo ". 

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 6 - A parte do México conhecida como Yucatán vem da época da conquista, quando um espanhol perguntou a um indígena como eles chamavam esse lugar, e o índio respondeu "Yucatán". Mas o espanhol não sabia que ele estava informando " Não sou  daqui ". 
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 7 - Existe uma rua no Rio de Janeiro, no bairro de São Cristóvão, chamada "PEDRO IVO".
Quando um grupo de estudantes foi tentar descobrir quem foi esse tal de
Pedro Ivo, descobriram que na verdade a rua homenageava D.Pedro I,
que quando foi rei de Portugal, foi aclamado como "Pedro IV" (quarto).
Pois bem, algum dos funcionários da Prefeitura, ao pensar que o nome
da rua fora grafado errado, colocou um " O " no final do nome.
O erro permanece até hoje.