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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Amor, paixão e amizade (Mirian Goldenberg)


O maior problema do casamento é a morte do desejo sexual, já que este se alimenta da falta, da incerteza

Meus pesquisados apontam três ingredientes presentes no casamento: amor, paixão e amizade. O amor aparece como um sentimento amplo e difícil de ser definido. É diferente da paixão, inicial e provisória, que se transforma em amor ou acaba.
Segundo os entrevistados, é impossível manter um estado permanente de paixão, por dois motivos: ela não resiste ao cotidiano e sua irracionalidade é insuportável.
Quando não acaba como fogo de palha, a paixão se transforma em algo mais tranquilo: o amor. Já esse, para durar, deve conter resíduos da paixão inicial ou corre o risco de se transformar em outro sentimento: a amizade.
O casamento deve combinar os três sentimentos: uma grande dose de amor com pitadas de paixão e amizade.
É preciso ter cuidado para não desequilibrar essas porções, já que uma grande dose de amizade poderia destruir o desejo sexual.
O amor se encontra entre a paixão e a amizade. É menos explosivo do que a primeira, mas menos morno do que a segunda. É mais tranquilo do que a paixão, mas menos seguro do que a amizade.
Se a paixão é insuportável por sua imprevisibilidade e sua loucura, o perigo da amizade está na racionalidade e na rotina. Um equilíbrio complicado é necessário para que uma e outra estejam presentes no casamento, mas que não sejam mais fortes do que o sentimento de amor.
A paixão é associada ao excesso de sexo. A amizade é relacionada à falta dele.
O sexo deve ser frequente e agradável, mas mais controlado do que na paixão. O casal deve estar atento para não deixá-lo cair na rotina e na burocracia, fantasma que ameaça os relacionamentos.
A ideia de que é possível administrar esses três sentimentos apareceu entre os pesquisados.
A paixão, mais irracional, deve ser domada, mas não pode ser excluída do casamento. Uma dose controlada de insegurança e de incerteza sobre a posse do outro é considerada necessária para alimentar o desejo sexual.
Essa matemática complicada torna os casais reféns de lógicas contraditórias. Os pesquisados apontam como perigos para o casamento a rotina, a burocratização, a mesmice. Mas falam também da necessidade de fidelidade, segurança, tranquilidade.
O maior problema do casamento, dizem eles, é a morte do desejo sexual, já que este se alimenta da falta, da insegurança, da incerteza.
Como conciliar, então, amor e desejo sexual no casamento? Eis a questão.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

A fórmula da felicidade (Mirian Goldenberg)




Uma boa vida depende da harmonia entre segurança e liberdade, mas não dá para ter as duas ao mesmo tempo


O filósofo polonês Zygmunt Bauman, aos 86 anos, deu uma belíssima entrevista para o projeto Fronteiras do Pensamento, no dia 25 de julho de 2011, em Londres.
Nela, esse pensador discute dilemas muito presentes no universo de homens e mulheres que tenho pesquisado nos últimos anos. Bauman afirma que há dois valores absolutamente indispensáveis para uma vida feliz. Um é a segurança, o outro é a liberdade. Para ele, não é possível ser feliz e ter uma vida digna e satisfatória na ausência de qualquer um dos dois. Segurança sem liberdade é escravidão. Liberdade sem segurança é caos.
Entretanto, ninguém, até hoje, encontrou a fórmula de ouro, a mistura perfeita entre segurança e liberdade. Cada vez que conseguimos mais segurança, entregamos um pouco da nossa liberdade. Quando temos mais liberdade, entregamos parte da nossa segurança.
Bauman cita "O Mal-Estar da Civilização", de Freud, para lembrar que a civilização é uma troca: sempre ganhamos e perdemos algo. Para Freud, os indivíduos entregaram liberdade demais em prol de segurança. Hoje, poderíamos ver o contrário: entregamos demais a nossa segurança em prol da liberdade.
Nunca iremos encontrar a solução perfeita, o equilíbrio do pêndulo que vai ou em direção à liberdade ou em direção à segurança, conclui Bauman. E esse é o nosso grande dilema: nunca iremos parar de procurar essa mina de ouro, pois queremos ter liberdade e segurança ao mesmo tempo.
Muitos filósofos contemporâneos consideram a vida de Sócrates como a mais perfeita que se possa imaginar. Bauman pergunta: o que isso significa? Significa que todos nós devemos imitar Sócrates e tentar ser iguais a ele? Não, ele responde. Ele não acredita em uma única maneira de ser feliz.
Justamente porque Sócrates considerava que o segredo da sua felicidade estava no fato de ele próprio, por sua própria vontade, ter criado a forma de vida que ele viveu.
As pessoas que imitam a forma de vida e o modelo de felicidade de outra pessoa não são como Sócrates. Pelo contrário, elas traem a receita de felicidade dele. Precisamente porque o segredo de Sócrates pode ser traduzido de uma maneira simples: para cada ser humano há um mundo perfeito a ser construído especialmente para ele. Um mundo perfeito para cada indivíduo a ser inventado por cada um de nós.
Então, o que é mais importante para a sua felicidade? Liberdade ou segurança?

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Os velhos clichês e a guerra de sexos (Mirian Goldenberg)



Como se fossem de uma espécie superior, elas se acham únicas e dizem que os homens são todos iguais


"homem só quer sexo, mulher quer amor." "Todo homem é galinha, machista e infiel." "Homem tem medo de mulher independente."
"Homens ficam inseguros quando o salário da mulher é maior." "Homens são infantis, bobos e imaturos."
"Eles odeiam discutir a relação."
"Homem não sofre por amor." "Eles se separam e logo arranjam outra." "Eles detestam mulher inteligente."
Esses e outros clichês são crenças frequentes entre as mulheres brasileiras.
Elas repetem esses velhos chavões como se só elas, e não eles, tivessem mudado nas últimas décadas.
Não encontro entre os homens os mesmos clichês.
Eles dizem que se sentem atraídos pelas inteligentes e que admiram as fortes, poderosas, independentes.
A maioria quer sexo, sim, mas com a mulher amada. Um economista de 55 anos declarou: "Para as mulheres, todo homem é galinha. Sempre fui fiel à minha mulher. Não quero ter outra. Quero que ela seja também a minha amante. Não quero trair a minha melhor amiga".
Os dados do IBGE mostram crescimento no número de homens que se casam com mulheres mais velhas. Eles desejam uma mulher bonita, é verdade, mas desde que ela seja interessante (inteligente, bem-humorada, independente).
Como me disse um arquiteto de 47 anos: "Essa coisa de homem trocar uma mulher de 40 por duas de 20 é o maior clichê que as mulheres inventaram. Quero uma mulher interessante, uma companheira. E que mulher de 20 anos pode me ensinar alguma coisa? Não quero uma filha para ser dominada ou um troféu para ser exibido. Mas as mulheres insistem em rotular os homens".
Ou ainda, conforme um jornalista de 39 anos: "É até engraçado! As mulheres se consideram únicas, especiais, diferentes. Já nós, os homens, somos todos iguais. É como se elas fossem de uma espécie mais civilizada, superior, e nós os primitivos, seres inferiores".
Elas continuam repetindo ideias que não combinam mais com grande parte dos homens brasileiros.
Acabam, assim, reforçando os estereótipos de gênero, os mesmos que elas dizem querer destruir.
É óbvio que as brasileiras estão mais livres.
Mas parece existir uma cegueira feminina na hora de aceitar as transformações dos comportamentos masculinos e os novos modelos de ser homem.
Para conquistar uma verdadeira igualdade entre os gêneros, não seria a hora de parar de enxergar todos os homens pela mesma lente dos velhos clichês?

MIRIAN GOLDENBERG é antropóloga, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e autora de "De Perto Ninguém é Normal" (Ed.BestBolso)