segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Tamanho é documento - Mônica Salmaso

" Há possibilidades de escolhas verdadeiras e boas colheitas quando a gente se pergunta, lá no fundo, qual é o tamanho ideal do que realmente a gente considera ser uma vida boa"


Não me sinto à vontade para escrever uma coluna; mas, por conta do meu interesse pelo tema, no qual penso muito (muitas vezes), vendo em mim e nos outros os parâmetros variados e os resultados, achei que poderia escrever sobre ele, mesmo de maneira não tão incrível quanto eu gostaria de ser capaz.

Uma vez, eu estava num conhecido ateliê de móveis de São Paulo. Por sorte, o proprietário estava presente: Carlos Motta, uma pessoa muito conversadora, simpática e, sobretudo, apaixonada pelo que faz. Eu estava no oitavo mês de gravidez e ostentava um enorme barrigão que, na mesma proporção em que
me trazia todas as belezas mágicas de ter um bebê “morando” ali, destruía a minha lombar! Fomos conversando, e eu escolhi uma cadeira que me parecia ideal para descansar. Durante a conversa, soube que exatamente aquela cadeira tinha sido anatomicamente desenhada para trazer conforto à mulher de Carlos, quando estava amamentando. Ele havia recebido um convite grande para fornecer um enorme número de cadeiras para uma importante rede europeia.

O convite era tudo o que, normalmente, se pensa sobre ideal de crescimento. Muitas vendas, mercado europeu em maior escala, considerável entrada de dinheiro na conta. O problema era que, para conseguir dar conta daquele pedido, seria necessário aumentar a infraestrutura do ateliê, contratar mais gente, sair da produção menor que permitia ao dono fazer o que gosta e passar mais horas com a família, viajar, ler um livro, manter a vida que ele havia construído e que tinha chegado ao seu “tamanho ideal”. A pergunta era: aumentar exatamente para quê, se assim está bom?! Ele não aceitou.

Muitas pessoas diriam que “crescer numericamente” é o ideal de todos, posto que sempre podemos COMPRAR mais, ser DONOS de mais coisas! Mas será este o único ideal de vida, de ambição e de felicidade para todo mundo, mesmo? Ou é parte do pacote de infelicidade eterno do que não somos ou não temos, em comparação com os ideais de beleza, sucesso e riqueza vendidos nas revistas, na televisão, no cinema comercial etc.

Noutra vez, eu tinha que pagar uma conta e só podia fazer isso numa agência do Banco do Brasil ou numa casa lotérica. Fui a uma perto de casa e vi o anúncio do prêmio estimado em R$ 150 milhões. Fiz uma aposta. Voltei para casa pensando em que minha vida mudaria se os meus números fossem sorteados… Não mudaríamos de casa (gostamos da nossa) e/ou de carro. A casa na roça já é muito mais do que precisamos para nos equilibrar e nos divertir. Viajaríamos mais? Um pouco mais, porque já viajamos bastante fazendo o que fazemos. Achei, finalmente, a ÚNICA coisa que mudaria na minha vida hoje, sem dúvida, definitiva e radicalmente: NUNCA MAIS faria viagens internacionais em classe econômica!

Obviamente, não ganhei o prêmio, mas tive a chance de verificar, naquela hora, que a vida que tenho hoje me faz feliz, e que há possibilidades de escolhas verdadeiras e “boas colheitas” quando a gente se pergunta, lá no fundo, qual é o “tamanho ideal” do que realmente a gente considera ser uma vida boa.

Simples, até meio bobo, mas tão pouco praticado…

*Mônica Salmaso é cantora e lança o CD “Alma lírica brasileira”no Teatro Rival,dias 9 e 10 de dezembro

Nenhum comentário:

Postar um comentário