sexta-feira, 26 de outubro de 2012

O Plano "B" - Wilson Jacob Filho



     Ao perceber que não poderia manifestar, pessoalmente, os meus votos na comemoração do 21º aniversário de um jovem amigo, resolvi escrever-lhe uma mensagem que fosse além dos votos de felicidade eterna e/ou de pleno sucesso, obviamente só existentes nos domínios da fantasia.
     O que recomendar, porém, a quem acaba de atingir a plenitude do seu desenvolvimento físico e que mal começa a perceber os limites da sua capacidade psíquica e cognitiva?
     Tentando facilitar, reportei-me ao passado, buscando entender o que eu gostaria de ter compreendido na mesma idade e que poderia ter-me sido útil dali em diante. Nada encontrei diretamente ligado a um tema específico, nem senti falta de qualquer previsão importante que, na época, me teria sido útil para a tomada de decisões.
     Primeira conclusão: andar a gente aprende andando.
     Mesmo assim, insisti relembrando os projetos, ou melhor, os sonhos daquela idade. Percebi que alguns se realizaram exatamente como eu imaginara, enquanto outros chegaram perto, um pouco além ou aquém do desejado. A maioria, porém, permaneceu no fértil universo do imaginário embora, por outro lado, um grande número das realizações atuais não fez parte das expectativas de outrora. Curiosamente, porém, desta aparente dissonância entre o sonho e a realidade, só restou um sentimento de desagrado quando não houve uma solução alternativa.
     Segunda conclusão: sonhar é fundamental; realizar é opcional.
     Pronto, descobri finalmente o que gostaria de dizer a quem tem muitos anseios atuais e uma longa expectativa de vida para edificá-los. Não há porque limitá-los, nesta fase, por serem aparentemente irrealizáveis. Muito mais importante é encontrar mais que um caminho para atingir cada um dos objetivos. Assim sendo, haverá menor risco de nos tornarmos reféns de uma condição isolada. O “Plano B” passa a ser uma boa alternativa quando o “A” se mostra definitivamente inviável.
     Tenho aprendido muito sobre este assunto nos freqüentes contatos com aqueles que já viveram mais do que eu e cujas experiências demonstram que o conjunto da obra depende muito mais da capacidade de encontrar o melhor caminho durante a viagem, do que o de tê-lo idealizado nos seus mínimos detalhes antes de iniciá-la.
     Assim entendendo, fica mais simples diferençar a determinação necessária para que o objetivo possa ser alcançado da teimosia que muitas vezes impede a escolha de um plano alternativo. Para isto o tempo é um grande aliado. Sempre teremos a possibilidade de aprender a preparar vias alternativas para chegar onde queremos desde que tenhamos a flexibilidade necessária para reconhecer um obstáculo intransponível.
     Terceira conclusão: o determinado chega onde planejou, escolhendo o melhor caminho. O teimoso fica no caminho previamente escolhido tentando fazer com que ele o leve ao seu objetivo.
Escrevi, finalmente, a curta mensagem. Além de lhe desejar uma vida longa e repleta de desafios, recomendei que fosse generoso consigo mesmo, dando-se o maior número possível de opções para a realização dos seus sonhos. Para tal, não há motivo para pressa. A arte de escolher acertadamente é tarefa para o longo prazo. Todos os idosos que conheço que confessam estar satisfeitos com a vida continuam criando os seus “Planos B”.
     Talvez seja esta uma das principais estratégias para fazer da longevidade um caminho igualmente interessante a despeito de quanto cada um já o tenha percorrido.

Publicado no Jornal Folha de São Paulo em 13/09/2007.

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